5.4.13

O Fetiche da Vida Digital


Carlos M. R. Rocha
Em 1995, um cidadão americano teve um livro publicado no Brasil em que dizia que, no futuro,  os computadores pessoais possuiriam telas maleáveis e dobráveis que poderíamos usar como marcadores de livro, etc. Quando eu comentava isso com alguém, me chamavam de louco – e ainda chamam, principalmente quando falo de teleporte (teletransporte para os neófitos). Mas você ainda duvida? Paralelamente, estúpidos entusiastas da informática (estes sim malucos), prediziam o fim do livro, o fim da história e o fim do trabalho. Que absurdo.  Uma das coisas mais legais na minha vida é sempre ter razão quanto a futurologismos absurdos que só consigo explicar citando o filósofo Chicó: “...só sei que é assim”. Lembro-me de um trabalho de Psicologia Comunitária que fiz em 1998, em que citava a revolução que as novas formas de publicação online (chamadas inicialmente de Know-Logs ou Web-logs - hoje a intimidade permite que chamemos apenas Blogs) fariam com a imprensa, especialmente os jornais e, mais particularmente ainda os nascentes jornais online.
Quando em 2002 os ‘Flashblogs’ organizavam festas online cada um na sua casa e logo depois os ‘Flashmobs, que eram uma espécie de ‘HarlemShake’ pré-You Tube que vemos hoje. Eram o prenúncio das redes sociais digitais (virtuais, como queira). Ainda hoje tenho contato com algumas dessas pessoas  que nunca vi se quer o rosto, mas passei dias e/ou noites inteiras blogando juntos. Curioso é que não tenho contato com estes que discordavam de mim. Onde estarão estas pessoas? Tenho algo pra lhes falar: - Bem que eu  te disse.
Anos depois quando descobri o poder das comunidades digitais do Orkut em 2006 e suas possibilidades educativas e de geração, coordenação, valorização e direcionamento de conscientes coletivos, etc... Estes foram boicotados por uma invasão bárbara de psicopatas surtados que fizeram surgir os orkurticidas em larga escala e quase o fim trágico de um dos melhores serviços online já concebidos. Hoje o Orkut agoniza em câmara suspensa.  
Quando em 2008 compreendi a metáfora do Agente Smith do filme ‘Matrix’ e seu paralelo no mundo real, o ‘Facebook’. Você percebeu como o Facebook se espalhou pelo mundo? “- Like a virus...”. Por sorte Mark (o grande fodão da última década) ainda tem um propósito. Mas propósitos não têm a mesma longevidade da esperança, tem? Hum... Quem viver verá.
Tudo isso conduzindo a humanidade e suas discrepâncias sociais através de um convite irresistível ao controle total, à satisfação total, à plenitude existencial – mesmo que – virtual. Eu vou, você não vêm? Todos vem. E “Lá Vem Todo Mundo” como diz o título de um dos livros de um guru da Era Digital, Clay Shirky. 
Todos apontam caminhos. Todos os caminhos levam a Roma. E "Quando em Roma..." "...Abrace o Cão". Assim é a ‘arquitetura’ da rede. Nas artes (em todas as sete) caminhamos para os minimalismos. É justamente quando temos ‘tudo-ao-mesmo-tempo-agora” que o “menos é mais”. Que o “meio é a mensagem”. O sujeito que falava de ‘aldeia global’ em meados dos anos 1960 foi ridicularizado por muito dos seus pares na época. Os sobreviventes estão mudos. 
Hoje, da definição de si mesmo emana o poder. Sua indumentária, seus gestos, sua voz, sua aparência compõem sua identidade. Reparou que são todos aspectos manipuláveis? Moldáveis aos seus desejos, às suas necessidades? Então uma identidade coletiva, facilmente reconhecível, é poderosa e reconfortante. É tribo. Entre comunidades de tribos vivemos. Ora assumindo, ora oprimindo, ora calando, ora opinando. Quanto a isso não importa em que realidade se viva, a analógica ou a digital, contanto que haja segurança suficiente para se manter pulsante. No entanto, nada substitui o contato da pele. Isso sim é tecnologia avançada. Mas o mercado é feroz e precisa gerar necessidade. Além do mais, é gostoso satisfazer as necessidades. Qualquer delas, as imprescindíveis e as simuladas.
Viva o desejo criativo! Viva a imaginação virtualizante! Todos querem se dar bem, inclusive eu. E acredito que todos nós podemos satisfazer o que queremos sem arrancar o braço de ninguém. Quando eu não acreditar mais nisso, me tornarei perigoso. Tô só avisando.

Referências:
Negroponte, Nicholas. A Vida Digital. 
McLuhan, Marshall. Understanding Media.
Castells, Manuel. O Poder da Identidade.
Shirky, Clay. Lá Vem Todo Mundo
Suassuna, Ariano. O Auto da Compadecida

Citações:
"Quando em Roma faça como os romanos"
"Já que tá no Inferno, abrace o Cão"

Um comentário:

Anônimo disse...

blz, e qd em 2016 as frequencias vhf estiverem levres das ondas de tv, a net terá uma agilidade em tempo real incrivel, ai surge a tv interativa
Rios