1.6.06

OBSERVAÇÕES SOBRE O TEXTO:

"QUANDO O CAMPO É A CIDADE: FAZENDO ANTROPOLOGIA NA METRÓPOLE"
José Guilherme Cantor Magnani

O autor usa o texto para expor as razões que justificam os estudos antropologicos sobre sociedades complexas. Ele aponta a observação da 'diferença' como domínio próprio da antropologia. Observar as experiências humanas na sociedade e examinar os comportamentos e as regras que permitem a sociabilidade, faz parte de uma evolução dos paradigmas da ciências antropológica.
O olhar relativizador sobre a realidade de uma cidade passa por uma esquematização conceitual que servirá de instrumento ordenador das idéias e do pensamento sobre os locais e os usos na cidade. A cidade é, portanto, vbuista como uma teia de espaços (físicos) que engendram significados, espaços estes que são ressignificados de acordo com sua ocupação.
O instrumento teórico que o autor utiliza baseia-se na noção de 'pedaço', de 'mancha' e de 'trajeto' que são utilizados para a compreenção das diferentes dinâmicas urbanas. Magnani contrapõe os conceitos de 'comunidade' e 'sociedade' e expõe uma diferenciação comumente pouco delineada. Ele chama a atenção para as regras nos usos do tempo na sociedade e aponta o interesse científico para uma área da experiência humana que parecia não carecer de anélise científica.
Opondo os conceitos de 'sociedade' e de 'comunidade' ele coloca a 'sociedade' como um todo maior, mais caótico, menos rígido e englobador de 'comunidades':

"...trata-se de dois padrões, dois tipos ideais de interação social: sociedade implica relações secundárias, vínculos impessoais, visão racional, atitudes utilitaristas - enquanto comunidade evoca relações face a face, sentimento de solidariedade, obediência à tradição, rígido controle social, etc..." (pg. 47)

Essa mesma lógica de oposição, ele vai utilizar nas idéias de 'aldeia' versus 'cidade', 'público' versus 'privado', 'trabalho' versus 'lazer'... O processo político de participação de novos miovimentos sociais urbanos reorganizam a constituição e o ordenamento da cidade, pensada aqui como fruto de um conjunto de comunidade, como síntese e expressão da sociedade.
Magnani nos induz a pensar o 'tempo livre' em oposição ao 'tempo de trabalho' e demonstra sua preocupação em clarificar a importância do lazer como elemento revigorante das redes de sociabilidade:

"... a questão do lazer, portanto, surge dentro do universo do trabalho e em oposição a ele: a dicotomia é, na verdade, entre tempo de trabalho e tempo livre ou liberado, por lazer entende-se geralmente o conjunto de ocupações que o preenchem..."(pg. 31)

O autor opta pelo método etnográfico por acreditar ser este um método mais includente quanto à obtençãio de dados (entrevistas, questionários, histórias de vida, etc.) e à classificação das informações. Enfatiza a observação direta e a atenção sistemática (como na caminhada).
O espaço de lazer constituído de seus equipamentos (bares, cinemas, teatros, restaurantes, café da esquina, etc.) são definidos por ele como 'manchas de lazer', que "constituem pontos de referência para a prática de determinadas atividades" (pg. 41).
Essas 'manchas' pontuadas na cidade são compostas de 'pedaços' que são espaços de exercício dos códigos comuns, de reforço e estabelecimento de:

"... uma sociabilidade básica, mais ampla (...) mais densa, significativa e estável que as relações formais e individualizadas impostas pela sociedade..." (pg. 32)

Na cidade, os indivíduos percorrem estes espaços urbanos seguindo uma lógica peculiar à sua realidade, a esses caminhos esquadrinhados pelos cidadãos deu-se o nome de 'trajeto':

"...trajeto aplica-se a fluxos no espaço mais abrangente da cidade e no interior das manchas urbanas (...) a idéia de trajeto permite pensar tanto uma possibilidade de escolhas (...) como a abertura (...) em direção a outros pontos no espaço urbano, e por consequência, a outras lógicas..." (pg. 43/44)

Essas diferenciações apontadas pelo autor como justificativas para a prática etnográfica nos estudos que envolvem a cidade encontram reforço quando Magnani sugere que:

"... A cidade (...) não só adminte e abriga grupos heterogêneos (...) com está fundada na heterogeneidade..." (pg. 48)

Nada mais óbvio então do que o fazer etnográfico (a ciência máxima da 'diferença') para desvendar as dicotomias e as particularidades dos estilos de vida na metrópole.

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