9.4.11

MODESTA SAGA

Poesia em literatura de cordel em homenagem ao centenário de vida do voinho. Ps.: Os pontos nos finais de cada linha é para facilitar a interpretação e leitura maquínica do leitor de textos usado neste blog. Experimente! Say it!

I

Meu avô é cabra bom.
E eu agora vou falar.
Das coisas que soube dele.
De parte do seu penar.
Labutou até outro dia.
E viveu sem mordomia.
Para manutenção do lar.


II

Antonio Modesto da Rocha.
Nascido em fevereiro.
De mil novecentos e onze.
Dia vigésimo primeiro.
Foi na cidade de Morrinhos.
Que criou os seus filhinhos.
Com seu amor verdadeiro.


III

Cem primaveras passaram.
Desde o dia que nasceu.
No mundo muitas mudanças.
Quase nada percebeu.
Duas Guerras Mundiais.
A TV e tudo mais.
Seu semblante nem mexeu.


IV

Foi criado em belo sítio.
Com grande fartura e beleza.
Açude, engenho de cana.
Esplendorosa natureza.
Na capoeira do algodão.
Descaroçava todo botão.
E mandava pra Fortaleza.


V

De sua casa no Chóra.
Todo mundo lá gostava.
Sendo distante do Estreito.
Muita gente visitava.
Boa é a lembrança.
Passado naquela estância.
A família toda tava.


VI

Muitos eram seus irmãos.
Dez com ele no total.
Chagas era o mais velho.
Anastácio o decimal.
Sendo também Fransquinha.
Sua irmã e tia minha.
Sem apresentação formal.


VII

Foi aluno de Eraque.
Telegrafista do Estreito.
Que conhecia sete línguas.
Homem de muito respeito.
Ensinou-lhe o bê-á-bá.
E até a telegrafar.
Mas não muito direito.


VIII

Seu Modesto quando novo.
Era moço bem faceiro.
Cortava sempre o cabelo.
Aparava todo o pêlo.
Tinha seu próprio alfaiate.
Viajava sem desgaste.
Pra comprar novo modelo.


IX

Trabalhou a vida toda.
Desde a tenra infância.
No roçado ou no brocado.
Não dominava ganância.
Foi justo comerciante.
No começo era ambulante.
Viveu de muita andança.


X

Cavalgava em seu cavalo.
Carregando mercadoria.
Eram muitas localidades.
Que modestamente abastecia.
De frutas, legumes e mel.
Farinha vinda do céu.
Lotava toda mercearia.


XI

Santana do Acaraú e Marco.
Chóra, Estreito e Sobral.
Massapê e Camocim.
Morrinhos e Carnaubal.
Usando chapéu de massa.
Vendia quase de graça.
Lucrava muito no final.


XII

Conhecido na região.
Era sempre bem recebido.
Honesto, justo e sério.
Por Modesto conhecido.
Rapadura, arroz e sal.
Vendia bem, cobrava mal.
Também por isso era querido.


XIII

Maria Euri da Rocha.
Eis a sua companheira.
Mulher forte e decidida.
Moralista e rezadeira.
Foi com ela que viveu.
Casou e envelheceu.
Até hora derradeira.


XIV

Com ela fez onze meninos.
Sendo só cinco vingados.
Três homens e duas mulheres.
Cada um mais arrumado.
Terminou por criar um neto.
Deu a ele todo afeto.
Hoje homem já formado.


XV

Devido uma seca grande.
Passou por dificuldade.
Mandou muito dos meninos.
Estudar n'outra cidade.
Com ele ficou Manel.
Pai na Terra, Deus no céu.
Ficou por própria vontade.


XVI

Depois de muito parir.
Minha avó adoeceu.
Vendeu tudo que tinha.
E para capital correu.
Salvou a esposa da morte.
Contou só com própria sorte.
Já curada bem viveu.


XVII

Alugou uma casinha.
E montou sua bodega.
Carvalho Júnior de esquina.
Pio XII quase pega.
Fronteira do Lagamar.
Terra boa de morar.
Pena a fama que carrega.


XVIII

Caminhava semanalmente.
Até o centro da cidade.
Onde comprava seus produtos.
Pra vender com honestidade.
Sem exageros, com controle.
Sem nada de vida mole.
Supria qualquer necessidade.


XIX

Com bastante economia.
Comprou sua morada.
Esquina da Ana Gonçalves.
A família já criada.
Fechou sua mercearia.
Gozou da aposentaria.
Com a consciência elevada.


XX

Têm orgulho da família.
Por todos é estimado.
Com força ama sua casinha.
Que tá pronta pr'um sobrado.
Com seriedade construiu.
E serenidade assistiu.
As mudanças no legado.


XXI

Viu seus filhos casarem.
Todos com grande sucesso.
Uns mais do os outros.
É assim todo progresso.
Hoje tá cheio de netos.
Nem conta os seus bisnetos.
É tri-avô em processo.


XXII

O, do primogênito, filho.
Criou com grande carinho.
Hoje sou homem feito.
Sigo meu próprio caminho.
Ensinou muito ao rapaz.
Tornou-o homem capaz.
Pudendo já andar sozinho.


XXIII

Passaram-se muitos anos.
Para que visse seu riso.
Desde eu quando menino.
Até o aparecer do siso.
Homem sério e sisudo.
Sóbrio, são e tudo.
Não faltou quando preciso.


XXIV

Parabéns vô querido.
Por esta data festante.
Rara é sua idade.
Parece viveu bastante.
Desejo anos a mais.
Amor, saúde e paz.
Tudo de mais importante.


XXV

Espero ter contado.
Sem abusar da paciência.
As vitórias e o zelo.
De toda sua vivência.
Que debaixo de sol e chuva.
Foi seu nome como luva.
Numa vida de prudência.


XXVI

Termino assim esta saga.
De um justo homem modesto.
Querido pelos parentes.
Admirado por todo resto.
Voto hoje e agora.
Que nunca cê vá embora.
Finda aqui o manifesto.

Nenhum comentário: